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História de Barro Branco
O Barro Branco é uma comunidade tradicional do litoral norte da Bahia, localizada no município de Mata de São João-BA, próxima aos destinos turísticos de Praia do Forte e Imbassaí. O povoado vive um crescente desenvolvimento urbano e mudanças de costumes após a consolidação da indústria turística.
Séc. XX
O início
O início do povoamento do Barro Branco ainda é desconhecido. O que se sabe até então é que os avós de um antigo senhor nativo, falecido depois de idoso, chamado Seu Lió, já habitavam a localidade. Ou seja, certamente é uma comunidade mais que centenária.
Seu nome deriva de um composto argiloso de coloração branca que se retirava do rio próximo à antiga ponte do Fogaça, chamado pelos nativos de ‘tubatinga’. A palavra no português formal escreve-se ‘tabatinga’, de origem do tupi ‘tobatinga’ que significa “barreira branca, barro branco como cal” (WIKIPÉDIA apud NAVARRO, 2005). O material servia para fazer o revestimento das casas de taipa de mão.
Havia grandes roças de milho, feijão, abóbora e arroz, além da criação de animais como galinha, porco, cabra e gado, tudo isso em volta das habitações e na localidade Modesto.
O coqueiro nessa época era uma importante fonte de riqueza, pois além dos cocos serem usados como subsistência (tirava-se a carne e água para consumo imediato, ou no preparo do leite de coco etc.), ainda servia como demarcação territorial.
Os lotes eram contados pela delimitação e quantidade de coqueiros. Isto certamente é reflexo do expansionismo da família d’Ávila na plantação dessa espécie associada à pecuária. Inclusive, em muitos terrenos relatados pelos moradores antigos, existem coqueiros que eles dizem já estarem crescidos antes mesmo de eles terem nascido.
Arquilino e outros fazendeiros do litoral vendem suas terras, no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, marcando um importante momento histórico para o litoral de Mata de São João e para o desenvolvimento do turismo no Litoral Norte da Bahia como um todo. A BA-099 já existia até Itacimirim e o trajeto para a Praia do Forte ainda era realizado através de balsa. Esta última localidade já chamava atenção como destino turístico, com o investimento do empresário Klaus Peters, e Imbassaí se tornara um destino mais paradisíaco, para quem queria uma paisagem mais inalterada e a tranquilidade do banho de um rio caudaloso.
Com a valorização das terras, a maioria dos moradores de Imbassaí são obrigados a abandonarem suas residências com ameaças de expulsão e vão se abrigar no Barro Branco,.
Nesta época, as casas eram feitas de taipa com cobertura de piaçaba, não havia luz elétrica nem água encanada. As pessoas faziam as festividades do Terno de Reis e samba de roda. A sobrevivência consistia, além das plantações e da cultura do coco ditas anteriormente, em mariscagem, trançagem, coleta de piaçaba e licuri, pesca, casa de farinha etc.
1990 - 2000
A Linha Verde
Nesta etapa temporal, aconteceram mudanças substanciais no Distrito de Açu da Torre, reverberando em todos os seus povoamentos, incluindo o Barro Branco. A extensão da BA-099 ocorrida no ano de 1993, através de recursos do Prodetur-BA, apelidada de Linha Verde, criou um novo vetor de transformações socioespaciais e modificou alguns dos principais acessos às áreas localizadas mais ao interior do continente, como:
➔ O principal acesso à Rua Direta do Barro Branco, que antes se dava pela BA-512, através da localidade Olhos d’Água, agora é feita pela BA-099;
➔ Os vetores de crescimento turístico cresceram e se intensificaram na parte leste da BA-099, sentido Sergipe, ou seja, próximo à praia, aumentando a migração das populações tradicionais para o outro
lado, dessa vez pela elevação dos preços e do custo de vida;
➔ Os terrenos próximos à Linha Verde começaram a se valorizar mais ainda, intensificando os loteamentos e o parcelamento do solo;
➔ As demandas de trabalho do setor turístico começam a criar um polo empregatício, absorvendo pessoas das comunidades tradicionais em serviços menos remunerados e atraindo também trabalhadores de outros municípios, muitos deles com uma qualificação maior.
É nesse momento em que ocorre uma ruptura mais radical do modus operandi na comunidade e é quando chega ao povoado o entrevistado LUCIANO, vindo da cidade de Valente, na Região do Sisal da Bahia, para a construção do primeiro Hotel de Imbassaí, inaugurado em meados da década de 1990, hoje chamado Hotel e Resort Costa dos Coqueiros. Este foi o primeiro grande empreendimento na área de Imbassaí e empregou pessoas nativas, mas a grande maioria dos trabalhadores era da Região Metropolitana de Salvador.
2000 - 2010
A era dos resorts
A consolidação da Linha Verde como novo vetor de crescimento da indústria turística foi marcada pela construção do mega empreendimento milionário Costa do Sauípe, transformando as relações econômicas e socioespaciais do litoral do distrito de Açu da Torre. Seja pela geração de empregos na sua construção, necessitando de uma enorme mão de obra, bem como pela igualmente grande oferta de empregos após sua inauguração.
O resort foi responsável por uma grande migração de pessoas que vieram em busca dessas oportunidades. A maioria, por não conseguir arcar com
custos de vida elevados do lado leste da BA-099, sentido Sergipe, ocuparam o lado oeste desta via, onde havia pouca infraestrutura urbana e os preços eram mais acessíveis.
Algumas áreas de antigas fazendas começam a ser ocupadas, irregularmente, a partir deste momento, principalmente Marbelo (um dia já pertencente a Arquilino) e Haras (Loteamento Parque dos Coqueiros).
Provavelmente, por estarem situadas mais próximas à BA-099 houve um grande interesse por moradores de Imbassaí que não conseguiam mais acompanhar a subida dos preços nessa localidade e chegaram a vender suas casas e terrenos para construir e morar do outro lado da via, bem como de pessoas que estavam chegando em busca de conseguirem se empregar no setor turístico.
A partir deste momento o Barro Branco passa a ter uma escola dentro da comunidade, inaugurada por volta do início dos anos 2000, chamada de Escola Municipal Carmelita Carvalho Laudano (em homenagem à Dona Carmen, educadora e esposa de Antônio Laudano, ambos falecidos e citados anteriormente) e abrigava crianças do maternal ao 1o grau do ensino fundamental.
Outro ponto fundamental para entender as mudanças urbanas no povoado foram a venda de grandes lotes, herdados de nativos, muitos deles a preços baratos na época, para a instalação de sítios, principalmente nas localidades Pista e Modesto. Dos proprietários que foram contatados estão Jane do Rancho Bom Viver (Pista) e Val do Sítio d’Lenir (Pista).
É nesse período que começa a ser fornecida água encanada da Empresa Baiana de Águas e Saneamento S.A. (Embasa) ao povoado, além da inauguração da Associação de Moradores do Barro Branco em 2004.
2010 - 2020
A Urbanização
Este período é marcado por acontecimentos fundamentais para a compreensão da dinâmica atual do povoado. Logo no primeiro ano deste recorte temporal é
inaugurada a Escola Municipal Deputado Isaac Marambaia. Segundo LUCIANO, o homenageado foi o ex-deputado estadual da Bahia, natural de Camaçari, que pleiteou o projeto para levar energia elétrica ao Barro Branco e faleceu no mesmo ano. A biblioteca, dentro da edificação, leva o nome do também falecido esposo de Dona DOMINGAS, Gerônimo Soares dos Santos. O edifício se consolida como um marco na comunidade devido à sua arquitetura peculiar, com uso de empenas cegas, placas metálicas e cores fortes, se destacando das demais construções, inclusive da antiga escola, que são caracterizadas por grandes telhados cerâmicos à mostra, beirais e “avarandados”.
No mesmo período são inaugurados, em Imbassaí: A Escola Municipal José de Almeida Seixas Filho, em homenagem ao fazendeiro falecido conhecido como Zé
Seixas (mencionado na 1a fase); e o Posto de Saúde da Família Zilda Feitosa Dias, em homenagem a Dona Zilda, fundadora do ponto turístico da cachoeira que leva seu nome, no Haras. Era uma pessoa querida nas localidades: “Dona Zilda lá de Imbassaí matou as necessidade das muitas pessoas aqui. Era uma que morreu, mas era uma mulher mucho servidora, certo...” (ZÉ POPÓ).
Depois da inauguração da Escola Isaac Marambaia, em 2010, a antiga Escola Municipal Carmelita Carvalho Laudano agora serviria como Centro Comunitário do Barro Branco, que continuava sob a posse da prefeitura, abrigando a Associação de Moradores do Barro Branco. As obras da antiga sede, paralisada desde 2009, foram demolidas e, no lugar, foi construída, em 2016, uma polêmica praça, homenageando dois antigos moradores: José Tavares dos Santos e um quiosque, chamado de Quiosque da Música Perciliano Alves Barreto, em homenagem a Seu Percílio, grande tocador de Reis e finado esposo de Dona NILZA.